“Vende-se cenas”, diz a placa segurada por um dos cinco atores em plena calçada da Avenida Paulista, na frente do Parque Trianon. Com rostos pintados e figurino apropriado, o grupo também anuncia a oferta se dirigindo para as pessoas que passam na rua. “Você paga a partir de R$ 2 e pode assistir a uma cena agora”, diz a atriz Lara de Bittencourt, de 32 anos. Quando alguém paga, os atores se organizam em suas posições e começam a fazer a encenação, ali mesmo na calçada. Como muita gente para e assiste, depois da apresentação, o grupo passa o chapéu para arrecadar mais uns trocados.
Gaúchos do interior do Rio Grande do Sul, os atores do Núcleo de Pesquisa Teatral Santa Víscera vieram morar em São Paulo neste ano e começaram o “Vende-se cenas” há cerca de um mês para poder divulgar o trabalho do grupo. No início, eles faziam as apresentações durante a madrugada andando pelos bares da Rua Augusta e Praça Roosevelt. “No primeiro dia em que nós saímos com o ‘Vende-se cenas’, na Praça Roosevelt, os diretores de um teatro na própria praça nos viram e nos chamaram para fazer um espetáculo”, conta um dos atores, Douglas Winkelmann, de 29 anos.
Mesmo com a garantia de um local fixo eles decidiram continuar vendendo cenas nas ruas. “O projeto tomou outra dimensão. A gente pensa que em São Paulo as pessoas são muito corridas e nunca param, mas olham para a gente, o colorido, o diferente e param e prestam atenção”, diz Winkelmann. Eles preferem se apresentar em feiras de artesanato na rua, como a que ocorre no parque Trianon, aos domingos, pois, segundo eles, a receptividade do público é melhor e dá para ganhar um pouco mais de dinheiro.
Em geral, contam os atores, as pessoas que compram as cenas pagam mais que R$ 2 e as outras que assistem a tudo de graça, costumam colaborar e aplaudir depois da encenação. No último domingo, no Parque Trianon, eles conseguiram R$ 125, uma quantia que não ajuda muito nas despesas de cinco pessoas morando num mesmo apartamento e sem outro trabalho. Agora, eles buscam patrocínio para o projeto e também para a peça que deve estrear no próximo mês.
Segundo os atores, um dos melhores ganhos é interagir com o público. “Um dos objetivos do projeto é levar o teatro para o cotidiano das pessoas”, afirma Lara. “Na Paulista, circula gente de todo tipo. As pessoas se surpreenderam com a gente e pediram várias cenas. Teve um senhor que colocou um banquinho na frente e pagou seis cenas”, comentou o ator Marco Antonio Barreto, de 26 anos, se referindo à apresentação no Trianon.
Nessas apresentações nas ruas, a interação com as pessoas às vezes até ultrapassa os limites. “Uma vez a gente estava fazendo uma cena de briga, entre homem e mulher, e um rapaz entrou no meio para separar, achando que era de verdade. Paramos e começamos de novo”, conta Barreto. Em outro episódio, uma pessoa do público, que não sabia que se tratava de uma apresentação, se meteu no diálogo e os atores improvisaram o texto com a presença do novo integrante.
FONTE: g1.com
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