GRANDE CEARÁ MIRIM: AUTO DE NOSSA SENHORA

Há quanto tempo não se via uma apresentação teatral ao ar livre e de forma tão magnífica aqui na cidade! Aliás, lembro de ter presenciado espetáculos assim nas décadas de 70 e 80. De lá pra cá foi só silêncio. Nesse domingo, cinco de dezembro, quem compareceu à matriz de Nossa Senhora da Conceição pôde presenciar momentos de muita emoção. Atores e atrizes iniciantes, oriundos das oficinas sob o comando do professor Washington Pereira, incansável defensor da arte de representar, deram um show de interpretação na peça montada exclusivamente para esse momento da festa de nossa padroeira. Em apenas dois meses, e mesmo enfrentando algumas dificuldades, mas com muita boa vontade, ele preparou sua trupe para O Auto de Nossa Senhora, apresentado nessa noite. À exemplo de Maria, na vida muitas vezes é preciso saber dizer sim. O professor soube ser presente na hora precisa. Muito se tem falado sobre a falta de recursos para com a cultura, e isso eu não vou contestar, mas é preciso que se diga também que existe um câncer que devora o lado bom dos nossos artistas, que está ligado talvez a falta de união e, é preciso que se diga, a ausência de humildade por parte de alguns. Resultado: a coisa não acontece. “Bem-aventurados os homens de boa vontade.” Essa frase nunca irá envelhecer. Procurado pelo diretor da Fundação Nilo Pereira, Waldeck Moura, Washington aceitou o desafio de ministrar aulas de teatro para pessoas interessadas a ingressar nesse universo. Isso depois da Fundação ter tentado emplacar o projeto com outros profissionais, convite recusado por eles devido a questões de valores monetários. Nosso querido professor, que há muito não mais “mexia” com essa coisa de representar, com toda aquela humildade e sabedoria dos vales, que produzem seus frutos em silêncio e sem muito exigir, abraçou aquela causa tão nobre e fez o sonho acontecer. Trinta e oito pessoas em cena, e tantas outras empenhadas nessa tarefa. A apresentação em si foi de encher os olhos dos que estavam ali presentes. Fiquei encantado também com a sonoplastia. Um trabalho de primeira com atores e atrizes dublando as suas próprias vozes, numa sincronia perfeita. Quem sabe, futuramente por aqui nascerá uma outra Nova Jerusalém!