Reproduzimos entrevista com o escritor Francisco Martins Alves Neto concedida ao Jornal de Hoje (Natal/RN).
Como surgiu o projeto Momento do livro?
Surgiu quando eu era vendedor na Livraria Siciliano e vi que três vezes por semana, os vendedores se reuniam para falar sobre o livro que eles tinham lido. Notei que podia fazer aquilo nas escolas, contando histórias e levando a literatura para os alunos.
Fale um pouco sobre o projeto o Momento do livro.
Seu berço foi na escola estadual Dom Nivaldo Monte, em outubro de 2008. Levei para os alunos daquela instituição a história do livro A CABANA, que estava na lista dos mais vendidos no Brasil. Percebi que os jovens ficaram encantados com a contação de história. Depois daquele momento, professores e alunos chegaram até mim e disseram: "Você tem jeito para contar história, parece que a gente estava vendo a cena". Aquilo era tudo que eu desejava ouvir para tocar o projeto em frente. Continuei visitando escolas e lçevando aos alunos e professores o gosto pela leitura. Ganhei incentivo por parte da própria Siciliano, da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e do escritor Diógenes da Cunha Lima que me davam livros para sortear junto ao público. Depois fui falando do projeto para outros escristores e ganhando incentivadores.
Quais são os escritores potiguares que o senhor trabalha neste projeto?
Então. Depois que eu fiz umas quatro apresentações nas escolas eu pensei: "Não vou ficar falando de escritores internacionais, vou focar a atenção para os escritores locais, especialmente os que trabalham com a prosa". E assim pedi doações de livro para o projeto e foi chegando livros doados por outros escritores, a saber: Edilson Pinto, Lima Neto, André Sales, Tasso Soares, Monalisa Silvério, Elísio Medeiros, além do próprio Diógenes da Cunha Lima que já estava desde o primeiro momento. São eles, os escritores vivos que levo às escolas. Mas, enfoco também aqueles que fazem centenário de nascimento, em 2009 trabalhei Edgar Barbosa, Nilo Pereira e Jorge O'Grady de Paiva. Além é claro dos nossos já conhecidos Câmara Cascudo, Homero Homem, Henrique Castriciano, e Mané Beradeiro divulga : Renato Caldas, Zepraxedi, Kydelmir Dantas, Bob Motta, Antonio Francisco, Valério Mesquita,
Quais foram as escolas que o senhor já apresentou o show de palhaço Leiturino e Mané Beradeiro, com o projeto Momento do Livro?
Mané Beradeiro já fiz apresentação em muitas escolas, lembro agora da Dom Nivaldo Monte, Manoel Machado, Rooselvet (ambas em Parnamirim), Enéas Cavalcante (Ceará Mirim), Biblioteca do Sesc, Creche Silva Capistrano Djalma Maranhão Mário Lira (Natal). Já o Palhaço Leiturino brincou e encantou crianças do Manoel Machado, Mário Lira, Emília Ramos.
Quais são os apoios que o senhor recebe para desenvolver um projeto tão importante como este?
Dois apoios fundamentais: o carinho do público e o reconhecimento dos escritores que doam livros para o projeto.
Como surgiu os personagens vividos palhaço Leiturino e Mané Beradeiro pelo senhor ?
Mané Beradeiro, veio da lendária e mítica São Sarauê, a terra desejada dos nordestinos, a Canaã dos Sertanejos, onde corre rios de gualhada e as barreiras são de rapaduras. Ele é o principal apresentador de causos e poesias matutas. Tudo que ele conta é tirado dos livros de humor da literatura potiguar, dos córdeis ou de fontes orais. Nada criado por mim, no máximo adptado. Mané Beradeiro surgiu porque eu percebi que com um personagem os alunos, jovens e adultos, prestariam maior atenção àquilo que estava falando. Deu certo, muito certo mesmo.
Leiturino, o mais recente, estreiou em 9 de outubro do ano passado. Ele tem como objetivo resgatar histórias do nosso baú, que estão aí nos livros de Câmara Cascudo, Veríssimo de Melo, Diógenes da Cunha Lima, Elísio Medeiros, etc. Colocando após as histórias bricandeiras da infância do nunca-mais.
Qual a diferença entre contador de causos e de declamador de poesias matutas?
Contador de causos são histórias carregadas de humor, algumas satíricas, picantes. Poesias matutas são obras dos nossos poetas que mesclam a língua falada do povo simples com a beleza da vida, da natureza, do sertão.
O senhor é escritor. Como surgiu a vontade de interpretar personagens populares?
Para enriquecer o projeto. Não ficar apenas o escritor falando para a platéia. As crianças adoram brincar com Leiturino e perguntam se realmente ele trocou o coração por um livro. Os jovens e adultos acham cômico e ao mesmo tempo singular o Mané Beradeiro, com sua mala de madeira, suas histórias tão nossas. Eles são realmente os grandes ícones do Momento do Livro. Dão brilho, vigor, atraem.
Qual é a intenção desses personagens. Seria o de tornar mais conhecido a literatura popular através do estimulo da leitura?
Sim. Leiturino e Mané Beradeiro são diferentes em personalidades, mas têm o mesmo objetivo, isto é, a leitura é fundamental, importante, riqueza que uma vez adquirida ninguém pode roubar de você. Eles passam isto. Não apenas no tocante a literatura popular mais também a literatura clássica.
Fale um pouco sobre você (onde nasceu, etc...)?
Nasci em Iracema-CE. Meus pais quando vieram para o RN eu tinha dois anos de idade. Nasci lá e me criei por aqui. Vivi toda a minha primeira e segunda infância entre um vale e um rio, o Vale do Ceará Mirim e o Rio Maxaranguape. resido em Parnamirim. Trabalho pela manhã na Biblioteca da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.
E, sobre sua trajetória artística?
Não tenho.
Quantos livros o senhor já escreveu? Fale um pouco sobre eles.
Foram três. O primeiro em dezembro de 2004, "Contos da Nossa Terra", livro que conta várias histórias de Domício, menino que vive em Ceará Mirim, na década de 70. É um pouco autobiográfico. Depois veio o segundo: "Degustando Poesia", em dezembro de 2007 e em agosto de 2009 "Crônicas Sensoriais", um pequeno livro de bolso para ser lido com os olhos do coração, pois nele falo sobre a tragetória da minha infância. É o primeiro de uma série de três ou quatro que pretendo publicar.
Quais são suas influências literárias?
Muitas. Leio de tudo e sobre os mais variados temas e estilos. Então de cada um acredito que absorvo algo à minha formação.
Que autores potiguares inspiram suas obras?
Minhas obras ainda não formam um conjunto que seja capaz de ter a inspiração de outros autores.
Como surge a inspiração para as suas obras?
Ela, a inspiração, é como uma dama que vem, deita-se conosco e quando a procuramos, muitas vezes nas madrugadas literárias, ele já está nos braços de um outro escritor. Então, assim, nesta ótica, todo escritor é traído. Tem que ter paciência, esperar ela chegar, ouvir uma frase, ver uma cena, uma imagem e quando ela bater a porta do quarto da produção, você compartilha com ela e a coisa acontece. Então aproveita. Explore, pois logo ela a deixará novamente.
Qual (is) o cordel que se tornou mais conhecido?
Bem, dentro do Momento do Livro, há um que todos gostam: "Os Sete Constituintes", de Antônio Francisco. Mas há também "Me enganei com minha noiva" de Luiz Campos e "A briga da galinha caipira com a galinha de granja" de Bob Motta. Cada um com sua particularidade.
O senhor é escritor, poeta, cronista e "bloggeiro” fale um pouco sobre esse universo e veículo de comunicação.
Junte tudo isto numa só palavra: sonhador. Escrevo palavras que tenham o poder de levar alegria. Que sirvam como sachê para numa xícara noe final de tarde ser um chá entre amigos. Hoje a proliferação de escritor é como a praga de gafanhato no Egito. O livro (folha) é sem dúvida um instrumento que ficará por muito tempo no mercado, mas o blog ajuda bastante a semear seu pensamento, suas atividades. Acho isto maravilhoso e aproveito o máximo.
Como será a temporada do projeto Momento do livro em 2010?
Bem, pela primeira vez tenho a ousadia de começar o projeto de uma forma diferente. No dia 30 de março, às 19 horas, no auditório da Siciliano, no Midway Mall, haverá um show de abertura do projeto, com apresentação de Mané Beradeiro. A intenção é divulgar o projeto e arrecadar dinheiro para mantê-lo em 2010. Cada pessoa que for assistir ao show tornar-se-á colaborador deste projeto. Depois estarei visitando as escolas da Grande Natal e propondo-me a levar contação de histórias, shows de Leiturino e Mané Beradeiro às instituições. Tenho esperanças que será bem melhor que os anos anteriores.
E, quais são os seus próximos projetos?
Fazer com que o Momento do Livro possa ser agraciado com um incentivo à cultura, que seja a Lei Cãmara Cascudo ou Djalma Maranhão, para que através desta ferramenta possa atuar mais e melhor não apenas na Grande Natal mais também em todo o RN.